sábado, maio 17, 2008

Cenas ridículas do quotidiano


16h15m, Avenida António Augusto de Aguiar... percorro a rua de uma ponta à outra e nenhum lugar para estacionar.
-Bolas!
Por fim lá encontro um lugarzito. Estaciono à tangente. Enquanto arrumo a papelada, noto que o carro da frente vai sair.
-Boa!
Um carro está estacionado ao meu lado à espera do lugar, claro. Nem sequer penso nisso. Deixo deslizar o meu para o lugar do que saiu com o maior desplante. O outro fica furioso (ou melhor a outra). Ela bem tenta estacionar no lugar vazio atrás do meu mas não consegue e desiste.
-Azelhice dela...mas deve estar a rezar-me p'la alma!
Passados alguns segundos chega uma carrinha da mesma marca do meu carro e põe-se a estacionar. Olho pelo retrovisor.
-Bem! se a outra não conseguiu (e o carro era mais pequeno) este está a armar-se em esperto!
De súbito sinto um toque.
-UM TOQUE!
Abro o vidro e olho para trás capaz de o fulminar.
-Toquei-lhe? pergunta ele.
-Sim!
Sai do carro e vai ver os danos.
-Não foi nada! - diz - mas venha ver!
Eu saio do carro e vou verificar.
-Nada!
-Tenho sensores atrás mas não à frente! afirma ele.
-Pois!
Tiro tudo do carro e vou embora. Olho para trás...ele dirige-se para o lado oposto. De súbito, lembro-me que tenho de tirar o ticket do estacionamento. Volto para colocar o ticket. Ele também volta.
-Vou encostar o meu mais à frente não vá o diabo tecê-las! digo-lhe trocista
-Ah! não se preocupe, eu agora vou demorar imenso! - responde-me ele com o ar mais maroto

Eu sei, eu sei...falta o banco! mas é que naquela maldita rua não há bancos de jardim, a sério! Mas há árvores, isso há...todas em fila como soldados na parada. Sim, coitadas (penso eu), não é fácil ficar todo o dia debaixo de um sol tórrido a ver os humanos fazerem os maiores disparates ali mesmo por baixo delas.
No ligeiro bramir das suas folhas sacudidas pela brisa de uma primavera tardia, uma árvore ergue os olhos ao céu e exclama:
-Perdoai-lhes Senhor que de tão confusos não sabem o que fazem.
A que lhe está imediatamente a seguir olha-a de soslaio:
-Minha cara essas criaturas minúsculas em grande azáfama e que se atropelam com o maior desdém, já não têm salvação.
Ao que a outra responde sempre conciliadora:
- Verá, minha amiga, que ainda é destes seres quase insignificantes que virá a redenção ao mundo.
-Não teria tantas esperanças.
E por fim lá decidem calar-se para não perturbar ainda mais o corrupio enlouquecido daquela rua num fim de tarde como qualquer outro.

2 comentários:

náufrago do tempo e lugar disse...

Cara Maite,

Talvez o nome do sujeito seja António… ou Augusto, ou Aguiar… um Aguiar, a guiar ... e a bater. :)

Há muitos bancos na AAAA, sim, mas de dinheiro. :)

Quanto à redenção do mundo prevista por uma das árvores, quem sabe se ela não se sentirá perturbada – uma perturbação emocional que raiará a culpa - , por uma vivente do seu reino ter provocado a perdição do género humano no formosíssimo Jardim do Éden? :)

Gostei de a ler.

Um abraço.

Maite disse...

Caro Peregrino

Talvez seja :)

Pois, mas faziam falta uns bancos de jardim. Sempre que passo por lá, penso nisso.

Olhe que naquele dia pareciam-me algo perturbadas. :) Não me passou pela cabeça que pudesse ser esse motivo, mas é um motivo muito plausível :)

Obrigada

Um abraço e um bom final de domingo