Parece-me que a melhor opção para Angola será José Eduardo dos Santos continuar no poder, não porque pense que é um político íntegro, honesto e interessado em melhorar a vida do povo angolano que tem vivido na mais decrépita miséria mas porque ele (e os seus) já explorou o país o mais que pode, a sua mulher e os seus filhos (e as dos seus) já têm uma vida mais que luxuosa e portanto agora só lhes resta cuidar do país. Sim, porque ter uma fortuna assombrosa não é de todo assim tão deslumbrante se quando se sai do gueto em que vivem só vêem miséria à volta. Não ganhar JES significaria voltar ao início, isto é, outros tantos passarem décadas a encher os bolsos. Seria um retrocesso para Angola. Portanto, os angolanos votaram muito bem e não será uma observadora italiana qualquer que vai levantar ondas só porque acha que as democracias africanas têm que ser tão “transparentes” como as do mundo dito civilizado. A este propósito lembrei-me de uma passagem do livro de John le Carré que estou ainda a ler O Canto da Missão. Na Dinamarca um grupo de académicos escandinavos dirige debates confidenciais para resolver os problemas do Congo Oriental antes das eleições.
“- As eleições não vão trazer democracia, vão trazer caos. Os vencedores ficam com tudo e dizem aos vencidos que se fodam. Os vencidos vão dizer que o jogo estava viciado e depois fogem para o mato. E como, de qualquer modo, todos votaram segundo a etnia, voltam ao ponto de partida e pior ainda. A não ser…
Aguardei.
- A não ser que se possa colocar o nosso líder moderado antecipadamente no poder, educar o eleitorado em relação à mensagem dele, provar-lhes que resulta e pôr fim a este circulo vicioso. Está a seguir o meu raciocínio?
- Estou sim, chefe.
- É este o plano de jogo do Sindicato e é esse o plano que hoje, vamos tentar vender. As eleições são uma masturbação ocidental. Antecipamo-nos e pomos o nosso homem no poder, damos uma boa fatia do bolo ao povo e deixamos que a paz se instale. Alimentar milhões de gente esfomeada não é rentável. Privatizar os desgraçados e deixá-los morrer é. Mas o nosso pequeno Sindicato não pensa dessa maneira. Nem o Mwangaza. Pensam em infra-estruturas, partilhar e prazos a longo termo.
…………………….
- Um pote de dinheiro para os investidores, é uma dádiva, e porque não? – estava Maxie a dizer. – Nunca se inveje o quinhão de um gajo por correr um risco razoável. Há muito e chega para quando a gritaria e o tiroteio pararem… escolas, hospitais, estradas, água potável. E luz ao fundo do túnel para a nova geração de miúdos. Tem alguma coisa contra isso?”
Como se pode ler na contracapa do livro “O Canto da Missão é um thriller, uma história de amor e uma alegoria cómica dos nossos tempos. É uma viagem pelo coração das trevas da hipocrisia ocidental – até à luz.” Estou a ler o livro há meses e já li 158 páginas das 389. Entretanto já li outros e continuo também a ler O memorial do Convento do José Saramago :)
domingo, setembro 07, 2008
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2 comentários:
Curioso. Meia dúzia de anos atrás, estava eu frontalmente contra este post, entretanto, tive uma acesa discussão com um tio meu que vive no Brasil e que tinha a mesma opinião que John le Carré e já agora, a sua. Bem, hoje, ainda não concordando com as suas virtudes, admito. Existe toda uma lógica que me obriga a admitir este pensamento.
Enfim…
Abraço, Maite!
Saudades.
Caro PiresF.
Bem vindo seja :)
Concordo consigo. Também eu pensava exactamente o oposto aqui há uns anos atrás. O mundo não é perfeito mas sempre se podem dar uns passos nessa direcção mesmo que às vezes por caminhos turtuosos.
Um abraço para si também e boa noite
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