segunda-feira, setembro 18, 2006

Ainda durante as férias :)

Hamlet - Shakespeare
Quinta da Regaleira - Seteais - Sintra





Fui ver a peça representada pelo grupo de teatro Tapafuros. Apesar da abordagem tradicional, o palco era muito informal e não se resumia a um palco apenas. O público era convidado a seguir os actores por um determinado percurso da quinta (como se pode ver nas fotos).
E a propósito desta peça lembrei-me de um poema Inglês de Fernando Pessoa traduzido por José Blanc de Portugal:

Quantas - quantas sobrepostas máscaras usamos
Sobre a face de nossa alma? - e mais, quando
Se para seu bel-prazer, se a desmacaramos,
Sabe ela, sem a derradeira, sua face estar fitando?
A verdadeira máscara seu reverso não conhece;
Para fora apenas olham seus olhos mascarados;
Qual for o sentir ou consciência que comece,
Aceitar é já tê-los adormentados.
Como criança assustada de um espelho pela imagem
Crianças, almas nossas, de pensar perdido,
Outrem fingem nos seus esgares miragem,
De sua origem criando um mundo esquecido.
E quando a alma mascarada um pensamento fosse desvelar
Nem ele mesmo vai desmascarado p´ra a desmascarar.
Posted by Picasa

12 comentários:

Maite disse...

Desde já peço desculp pela falta de qualidade das fotos que se deve exclusivamente à azelhice aqui da fotógrafa.

PortoCroft disse...

"How many masks wear we, and undermasks,
Upon our countenance of soul, and when,
If for self-sport the soul itself unmasks,
Knows it the last mask off and the face plain?
The true mask feels no inside to the mask
But looks out of the mask by co-masked eyes.
Whatever conciousness begins the task
The task's accepted use to sleepness ties.
Like a child frighted by its mirrored faces,
Our souls, that children are, being thought-losing,
Foist otherness upon their seen grimaces
And get a whole world on their forgot causing;
And, when a thought would unmask our soul's masking,
Itself goes not unmasked to the unmasking."
- Fernando Pessoa

So... when will you drop your mask? :D :D :D

José Pires F. disse...

E eu, ao ler este post, deste me lembrei:

Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me. Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido,
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo.
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Tabacaria, A.Campos.

PS: Deve ter sido muito interessante, já que, a Quinta da Regaleira, é um espaço maravilhoso.

Grande abraço.

Maite disse...

Portocroft

Gostou da tradução de José de Portugal deste poema de Fernando Pessoa?

My mask?! What mask? You get what you see :)

Boa tarde para si

Maite disse...

PiresF

As máscaras...estes dois poemas são emblemáticos do quanto elas mais atrapalham que escondem.

A Quinta da Regaleira é um espaço divino. É um castelo de conto de fadas e ver aí Shakespeare representado é um privilégio. Durante a peça pensei que aquele "palco" também seria magnífico para a peça "Romeu e Julieta".

Grande abraço para si também

PortoCroft disse...

Dear Maite,

Am I getting blind? :D :D

PortoCroft disse...

P.S. - A tradução está excelente. :)

Maite disse...

Dear Portocroft

Are you? :D :D

Like your selective selection of songs today...more than words...more than pictures..what remains are the feelings :)

P.S. ainda bem que gostou da tradução :)

mtc disse...

Cara Maite

Não pude deixar de sorrir ao ler o seu post sobre a ida ao teatro na Quinta da Regaleira. Como o mundo é pequeno :)
Não há dúvida que a escolha do poema não poderia ter sido mais oportuna :)

Tudo tem a ver com tudo se nos lembrarmos também de que:
"A palavra 'pessoa' tem a sua origem no termo latino para uma máscara usada por um actor no teatro clássico. Ao porem máscaras, os actores pretendiam mostrar que desempenhavam uma personagem...(Peter SINGER - Ética Prática, p. 107-108)

À força de tanto usar máscaras, já nem ele próprio sabia quem era. Pudera ;)
Lembrei-me do seguinte poema de 1931 em Cancioneiro:

The poet is a faker. He
Fakes it so completely,
He even fakes he's suffering
The pain he's really feeling.

And they who read his writing
Fully feel while reading
Not that pain of his that's double,
But theirs, completely fictional.

So on its tracks goes round and round,
To entertain the reason,
That wound-up little train
We call the heart of man.

A real Master of Disguises I should say this time ;)
E agora ala que amanhã é dia de laborare :)
Resto de boa noite para si :)

Maite disse...

Cara MT
A esta hora só lhe posso dizer que gostei do seu comment. Prometo amanhã ler com mais atenção :)

Amanhã é dia de laborare..indeed

Sweet dreams (as you used to finish your comments)

Maite disse...

Cara MT
Não me diga que também esteve na Quinta da Regaleira a ver a peça?! :)

Sempre associei este soneto das máscaras de Pessoa a esta peça e à questão que Hamlet coloca "to be or not to be..."


O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega fingir que é dor
A dor que deveras sente


Penso que a poesia de Pessoa deveria fazer parte do imaginário de todos nós (Portugueses)mais...deveria ser obrigatório saber vários poemas "by heart".

Resto de boa tarde para si

mtc disse...

Sem dúvida, Maite. :)

Boa noite para si e
Sweet dreams as usual

PS: Estive mesmo, mesmo para ir, mas à última da hora tive de alterar os meus planos. Acontece :(