quinta-feira, setembro 28, 2006

Livros que não se podem deixar a meio

Ontem recomecei a ler o livro de V.S. Naipaul, A Bend in the River depois de o ter deixado a meio há anos. Recomecei ontem à noite, depois de ter lido uma crónica no blogda-se.blogspot. Mas como detesto recomeçar a ler do meio, voltei ao início.
É uma saga no interior de África e o livro começa com Salim a fazer a viagem desde a "east coast" para o interior, precisamente a inversa que os escravos negros fizeram durante séculos. O pormenor com que Naipaul descreve esta viagem é surpreendente. Tem a capacidade de nos fazer mergulhar no interior profundo de África e sem desejo de regresso, tal como Salim Each day's drive was like an achievement; each day's achievement made it harder for me to turn back. As personagens que mais o marcam são seres misteriosos como Zabeth, uma marchande que vive junto do seu povo no mato e que vem àquela cidade, praticamente destruida, para comprar produtos e vender ao seu povo. Salim é um muslim, mas as suas raizes perdem-se no tempo. Sabe apenas que a sua família tem laços remotos com os Hindus of the north-westen India. Aliás o tempo cronológico é algo estranho à sua família. Neither my father nor my grandfather could put dates to their stories. Not because they had forgotten or were confused; the past was simply the past. Penso que Salim, ao mudar-se para o centro de África, quer afastar-se deste paradigma familiar que o deprime.
O livro começa com esta frase extrordinária The world is what it is; men who are nothing, who allow themselves to become nothing, have no place in it.

4 comentários:

Vanda disse...

...e com essa frase que nos abre os portões de um outro mundo, lhe deixo um beijo e votos de bom fim de semana...

Vanda

Maite disse...

Vanda

Um bom fim de semana para si também :)

P.S. eu vou continuar a ler o livro :)

José Pires F. disse...

Pois é amiga, um tratado de irracionalidade e insanidade sobre a história pos-colonial do Zaire.

A Bend in the River é uma história onde nada acontece, mas onde, o clima de tensão é incomparável.

Boa leitura.

Abraço.

Maite disse...

Caro PiresF

Permita-me discordar de si. É certo que, eu pouco conheço da história pos-colonial do Zaire a não ser o que a maior parte dos Europeus sabe. Mas penso que o livro é uma narrativa e descrição de um período conturbado (uns dizem do Zaire outros do Uganda - o livro não especifica, pelo menos até onde eu já li, embora creia ser do Zaire)visto da perspectiva individual e, com certeza, subjectiva de um "outsider" porque é o que, afinal, Salim é. Embora África seja a sua pátria. Eu admiro-lhe a lucidez.
Ao ler este livro é como estarmos a olhar para o "outro" dentro dele próprio como num espelho. É essa também uma das caracteristicas apelativas da história.
Eu creio que a história se passa na actual República do Congo devido a esta frase de Salim ao referir-se à fuga de Nazruddin (aquele que lhe vendeu o negócio na tal cidade do interior de África) We heard that he had fled with his family to Uganda e que o Big Man de que ele fala é Mobutu.

Obrigada

Um bom fim de semana para si e um abraço :)