segunda-feira, outubro 23, 2006

Maria Antonieta


O filme de Sofia Coppola baseado na biografia de Antonia Fraser (mulher do dramaturgo Harold Pinter - prémio Nobel da Literatura de 2005) resgata a figura desta rainha Francesa de origem Austríaca, num filme em que o presente e o passado se interpenetram, quer pela música (uma mistura de música do séc: XVIII pré-neo-romântica e música contemporânea pop, rock, punk), quer através da própria figura de Maria Antonieta que nos é apresentada como uma adolescente frágil, vulnerável e inadaptada ao ambiente para onde foi transportada [a corte do Palácio de Versalhes em vésperas da Revolução Francesa (1789)] e uma mulher aparentemente fútil, frívola, amante do prazer pelo prazer em que se transformou depois da desilusão em que se tornou o seu casamento com o delfim de França e o ambiente de intriga em que vivia.
Maria Antonieta, antes de ser odiada pelo povo (cuja vida miserável contrastava com a sua) foi odiada, mais veementemente, pela aristocracia que a acusava de dar uma imagem negativa da monarquia (no filme, Sofia Coppola parece fazer uma comparação de Maria Antonieta com Diana de Gales).
Quase no final, e já com o povo em fúria, em frente de Versalhes, Maria Antonieta aparece na varanda principal do Palácio e inclina-se (abrindo os braços sobre o parapeito de pedra da varanda) em frente a esse mesmo povo que a odeia e a decapita mais tarde. Nesse momento um silêncio respeitoso, surpreso e, atrever-me-ia a dizer, afável percorre a multidão, mas é apenas um momento breve que se torna num motor mais poderoso para os acontecimentos seguintes (a destruição do Palácio e com ele da monarquia). Um filme que vale a pena ver.

19 comentários:

PortoCroft disse...

Cara Maite,

Faço votos para que, na eventualidade de um dia perder a cabeça, não a perca como a Maria Antonieta. Tudo menos isso! :D

Boa tarde para si.

Maite disse...

Caro Portocroft

Faço votos para que não. Que horror!!! Acha que mereço isso?! :)))

Mas olhe que em toda a história da monarquia Francesa, não consta que alguma rainha tenha sido assassinada à excepção de Maria Antonieta. Digamos que ela foi sempre uma vítima das circunstâncias. Primeiro, devido à ambição da mãe, a imperatriz Maria Teresa da Austria, que queria ganhar aliados, não pela guerra mas através de contratos de casamento (dos seus filhos - e teve imensos), depois devido à sua inadaptação ao ambiente excessivamente ritualizado da corte Francesa e finalmente (penso que haveria outras) devido à circunstância de a França ter ajudado a América na conquista da independência relativa à Inglaterra e que minou os cofres do reino Francês. A miséria do povo não se deveu à vida que Maria Antonieta levava (como fizeram o povo acreditar) mas a esse conflito permanente (às vezes velado) entre Franceses e Ingleses.

Uma boa tarde para si

PortoCroft disse...

Maite,

Falava em sentido figurado, obviamente. Não merece! E que merecesse!... :D

A Maria Antonieta foi, sem dúvida, vitíma disso tudo. Mas, que raio de forma de ficar na história. :D

Maite disse...

Portocroft

Ufff! ainda bem que acha que não mereço :)))))

Sabe? Acho que ela preferia, de longe, ter sido feliz.

Agora lembrei-me da "casinha" que Luís XVI lhe ofereceu (quando tudo começou a ser mais normal entre eles), onde ela pôs em prática muitas das ideias lidas em Rosseau (uma maior proximidade com a natureza, trajes mais simples, nada de ritualismos bacocos)

José Pires F. disse...

Tentei ver este filme no sábado passado. Infelizmente, quando chegámos (éramos 4) já só havia lugares separados (os 4). Daí o ter adiado o seu visionamento para outro dia.
Mas está na calha, ai se está.

Grande abraço.

Maite disse...

PiresF

Pode acreditar que vale a pena. Há momentos de grande tensão psicológica, de hilariante humor e de surpresa principalmente ao nível da música.

Grande abraço para si também e um bom dia

Alberto Oliveira disse...

Cara Maite:

É um dos filmes que em princípio poderei ir ver este fim-de-semana. Tinha outros em carteira que já despachei e por sinal com algum desconsolo onde cabe a "Dália Negra" de um dos maeus realizxadores favoritos: Brian de >Palma. Mas enfim, o cinema também é isso mesmo; feito de boas e más surpresas...

Tenha um óptimo resto de dia!

José Pires F. disse...

Passei e como não há post novo, fico-me pela boa-noite.

Abraço.

PS: Sim, vou ter de ir ver.

Maite disse...

Caro Legível

Penso que vale muito a pena.

Este fim de semana estava a pensar ir ver "Dália Negra" :(

Tenha uma óptima tarde

Maite disse...

PiresF

Muito trabalho por aqui, daí a falta de posts.

Um abraço para si também

mtc disse...

Cara Maite

A propósito do filme Maria Antonieta enviei-lhe ontem um comentário por mail porque o Blogger estava em período de manutenção.
Próximo na lista: Vinicius :)

Boa noite para si

Maite disse...

Cara MT

Mail recebido :)

Que venha Vinicius :)

Boa noite para si

P.S. amanhã respondo ao mail

Parrot disse...

Olá Maite,

Ao contrário dos livros....não gosto de filmes "históricos", não me pergunte porquê, nem eu sei...e veja lá que adoro História. A agora que faço? Não sei se irei seguir a sua sugestão....muito menos um filme de ventos e vendavais. :)))

Bom fim de semana

PS - A Sofia se for como o pai (falo de talento), é um bom tónico para ir ver.

Maite disse...

Parrot

Vá ver e depois conta-nos a sua impressão :)
Imagine que eu prefiro filmes ou então História misturada com romance :)

Bom fim de semana para si também :)

P.S. como já li algures...penso que já começou a dinastia Coppola :)

Maite disse...

Parrot

Esqueci-me de dizer que também gosto imenso de ouvir José Hermano Saraiva a contar histórias de História. :)

amok_she disse...

Convinha, talvez, referir que o Marie Antoinette da Sofia Copolla não é, nem pretende ser, um filme histórico. Porque quem o for ver nessa expectativa é capaz de sair de lá com vontade de fazer o que fizeram os de Cannes...;-)

Maite disse...

Cara Amok_she

Um filme histórico não será :))))
Mas que é baseado na Históia, não pode deixar de concordar e que nos dá uma imagem quase alucinante da época, também :)

P.S. penso que me desbloqueou o blog com o seu comentário :) já que agora até já aparece o post que postei ontem. Obrigada :)

amok_she disse...

essa é boa!!!;-))))

(eu sou mt teimosa!;-)...sendo um filme inspirado numa determinada época histórica e não sendo um filme histórico(!) a forma de o olhar tem de ser, necessáriamente, outra...digamos q aquele capítulo da história de França apenas serviu de mote para o filme...só isso, daí que a música - reafirmado pela realizadora - seja um dos pontos fortes a juntar ao "desenho" do crescimento do ser... segundo li, já nem me lembro onde, para a realizadora este é o completar do triângulo [;-)))] com os dois filmes anteriores...

Maite disse...

Cara Amok_she

Para lhe ser franca não vi os outros dois filmes.
Com que então, um triângulo?! ai esses triângulos! :))))))

Mas sabe? Penso que o filme traduz a visão estética, de uma determinada época da história, da realizadora. E a propósito lembrei-me do Voo 93 e do World Trade Centre que comparativamente, e focando um determinado e mesmo acontecimento, um apenas se limita a relatar factos e o outro é uma criação estética do realizador sem por isso ser menos verdadeira.
E quanto à música no filme de Coppola, a escolha é magnífica para cada cena. Também concordo consigo quando diz que o filme é como que um caminho de iniciação da personagem na tomada de consciência do seu ser individual. Eu atrever-me-ia a dizer que a sua vida é um círculo, como a de todos nós. Antes de ir para Versalhes, "fugiu" a uma educação rigorosa que era suposto ela ter por ser filha de quem era e mostra-se como uma adolescente simples e afável. Em Versalhes aprende o delírio e a frivolidade e no final regressa ao seu "primeiro ser", não de forma ingénua mas consciente.