For most of us, knowledge of our world comes
largely through sight, yet we look about with
such unseeing eyes that we are partially blind.
One way to open your eyes to unnoticed
beauty is to ask yourself, 'What if I had never
seen this before? What if I knew I would never
see it again?'
Rachel Carson
sábado, abril 29, 2006
terça-feira, abril 25, 2006
199 anos e dois dias depois do nascimento de Turner aconteceria em Portugal o evento mais emblemático da sua história
...pelo menos para nós que estamos vivos e presenciámo-lo, quer estivessemos na capital, quer na província. Eu lembro-me desse dia. Era um dia de sol e como todos os dias preparava-me para ir para a escola. A casa estava demasiado silenciosa, a minha mãe nem sequer deixou cair a observação costumeira de que eu já estava atrasada. Estava a tomar o pequeno almoço quando a "bomba" explodiu na rádio. "Uma revolução!...mas como é que vai acontecer uma revolução?! E porque é que uma revolução está a acontecer?" Exclamações e perguntas de uma míuda naif de 10 anos. Debrucei-me da janela para ver melhor a "revolução", olhei para o meu lado esquerdo e só uma coisa era diferente das outras manhãs. Os meus colegas já iam para a escola e passavam junto daquela casa e nada bulia ali. Logo ali em que dois pares de pastores alemães eram capazes de nos comer só porque lhes faziamos umas provocações(zitas) quando passávamos. O que vale é que a rede do jardim era suficientemente forte para os manter do lado de lá e nós do lado de cá a rir a "bandeiras despregadas". Era estranho...parecia que os cães tinham desaparecido assim como que por magia. À tarde já sabiamos de tudo...aquela casa era nada mais nada menos que uma das famosas casas da PIDE. E a partir daí ouviamos, dos colegas de escola mais velhos, histórias horríficas do que se passaria lá.
domingo, abril 23, 2006
William Turner - faria hoje 231 anos (uma bonita idade) ;)
"None are more hopelessly enslaved than those who falsely believe they are free."
Johann Wolfgang von Goethe
John Mallord William Turner, um pintor de uma sensibilidade extrema. Pintou a Natureza no que ela tem de mais belo e perigoso, de magnífico e tenebroso. Deixou-nos uma imensa obra que nos fascina pela ostensiva capacidade de revelar a Natureza e com ela o mais íntimo do ser humano.
quinta-feira, abril 13, 2006
sábado, abril 08, 2006
Porque hoje é sábado :))))
quarta-feira, abril 05, 2006
Homenagem ao Papagaio Verde - Jorge de Sena
A pedido do Parrot num comentário do post anterior, um extracto do conto.
Este Papagaio foi oferecido a Jorge de Sena pelo pai (comandante da marinha) que o trouxe do Brasil e que se tornou o seu melhor amigo, que dava brilho à sua infância solitária e infeliz. Este extracto narra de forma simples mas dilacerante a perda do amigo.
“Um dia, quando, arquejante da rua e das escadas, cheguei à varanda, o Papagaio Verde estava inerte no canto da gaiola, com o bico pousado no chão. Peguei-lhe, aspergi-o com água, sacudi-o, com a mão auscultei-o longamente. Não morrera ainda. Levei-o para a sala, deitei-o nas almofadas, puxei a cadeira para junto do piano, e, enquanto com os dedos da mão esquerda lhe apertava a pata, toquei só com a direita a música de que ele gostava mais. As lágrimas embaciavam-me as teclas, não me deixavam ver distintamente. Senti que os dedos dele apertavam os meus. Ajoelhei-me junto da cadeira, debruçado sobre ele, e as unhas dele cravaram-se-me no dedo. Mexeu a cabeça, abriu para mim um olho espantado, resmoneou ciciadas algumas sílabas soltas. Depois, ficou imóvel, só com o peito alteando-se numa respiração irregular e funda. Então abriu descaidamente as asas e tentou voltar-se. Ajudei-o, e estendeu o bico para mim. Amparei-o pousado no braço da cadeira, onde as patas não tinham força de agarrar-se. Quis endireitar-se, não pôde, nem mesmo apoiado nas minhas mãos. Voltei a deitá-lo nas almofadas, apertou-me com força o dedo na sua pata, e disse numa voz clara e nítida, dos seus bons tempos de chamar os vendedores que passavam na rua: - Filhos da puta! – Eu afaguei-o suavemente, chorando, e senti que a pata esmorecia no meu dedo. Foi a primeira pessoa que vi morrer.”
Este Papagaio foi oferecido a Jorge de Sena pelo pai (comandante da marinha) que o trouxe do Brasil e que se tornou o seu melhor amigo, que dava brilho à sua infância solitária e infeliz. Este extracto narra de forma simples mas dilacerante a perda do amigo.
“Um dia, quando, arquejante da rua e das escadas, cheguei à varanda, o Papagaio Verde estava inerte no canto da gaiola, com o bico pousado no chão. Peguei-lhe, aspergi-o com água, sacudi-o, com a mão auscultei-o longamente. Não morrera ainda. Levei-o para a sala, deitei-o nas almofadas, puxei a cadeira para junto do piano, e, enquanto com os dedos da mão esquerda lhe apertava a pata, toquei só com a direita a música de que ele gostava mais. As lágrimas embaciavam-me as teclas, não me deixavam ver distintamente. Senti que os dedos dele apertavam os meus. Ajoelhei-me junto da cadeira, debruçado sobre ele, e as unhas dele cravaram-se-me no dedo. Mexeu a cabeça, abriu para mim um olho espantado, resmoneou ciciadas algumas sílabas soltas. Depois, ficou imóvel, só com o peito alteando-se numa respiração irregular e funda. Então abriu descaidamente as asas e tentou voltar-se. Ajudei-o, e estendeu o bico para mim. Amparei-o pousado no braço da cadeira, onde as patas não tinham força de agarrar-se. Quis endireitar-se, não pôde, nem mesmo apoiado nas minhas mãos. Voltei a deitá-lo nas almofadas, apertou-me com força o dedo na sua pata, e disse numa voz clara e nítida, dos seus bons tempos de chamar os vendedores que passavam na rua: - Filhos da puta! – Eu afaguei-o suavemente, chorando, e senti que a pata esmorecia no meu dedo. Foi a primeira pessoa que vi morrer.”
terça-feira, abril 04, 2006
"Quanto eu disser..."
Quanto eu disser não ouças,
quanto eu fizer não vejas;
e, se eu estender as mãos,
não me estendas as tuas.
Aceita que eu exista como os sonhos
que ninguém sonha,
as imagens malditas que no espelho
são noite irreflectida.
Talvez que então
da pura solidão
eu desça à vida.
Jorge de Sena
quanto eu fizer não vejas;
e, se eu estender as mãos,
não me estendas as tuas.
Aceita que eu exista como os sonhos
que ninguém sonha,
as imagens malditas que no espelho
são noite irreflectida.
Talvez que então
da pura solidão
eu desça à vida.
Jorge de Sena
sábado, abril 01, 2006
"O Dizedor de Poesia"
As palavras caem retumbantes numa cadência quase demoníaca de devorador de conceitos. Empresta a voz a qualquer género que cruze o seu caminho e as palavras saem expelidas por uma contusão trágica, um quase lamento lancinante.
Arranca sorrisos e mesmo risos à audiência, conservando uma postura grave como que desalinhada dos sentimentos e sensações que provoca.
Torna-se uma figura irreal. Despe-se de si próprio, encarna o poema e confunde-se com ele. Os gestos seguem as palavras ou serão as palavras que correm atrás dos gestos numa simbiose irrepetivelmente repetida.
É assim que lembro Mário Viegas da única vez em que estive na sua presença.
"As pessoas nascem - umas uns segundos, outras alguns anos - e morrem, à espera do amor, da felicidade, da paz, da utopia..." Mário Viegas
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