Correm turvas as águas deste rio
Que as do céu e as do monte as enturbaram;
Os campos florescidos se secaram;
Intratável se fez o vale, e frio.
Passou o Verão, passou o ardente estio;
Umas cousas por outras se trocaram;
Os fementidos Fados já deixaram
Do mundo o regimento ou desvario.
Tem o tempo sua ordem já sabida;
O mundo, não; mas anda tão confuso,
Que parece que dele Deus se esquece.
Casos, opiniões, natura e uso
Fazem que nos pareça desta vida
Que não há nela mais que o que parece.
Luís de Camões
segunda-feira, janeiro 16, 2006
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2 comentários:
Eu não escreveria melhor! ;)
Caros Portocroft e Pólux
É uma verdade indiscutível que as palavras dos poetas são de uma actualidade fremente, ninguém como eles para expressar de forma concisa e bela sentimentos e realidades que todos sentimos e presenciamos.
Mas enquanto no poema de Camões há um certo fatalismo, no de JMB renasce a esperança.
Um abraço para ambos
P.S. Pólux, gosto das suas réplicas
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